![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJMN1mlo6Ec07r8Wgbw7eQ-WpRbc183GUAPHXds6ivarwOaKfjaUpQwui9zSJo-gyukn3zNleG-L5LjM_iZXxFxDp3o0I_k7bskygqOcDd_NPCQgHpwwzB08ONQt5VNRL1bUXsjLI3f4O_/s1600/tumblr_nh6vue1jxG1u5rb1xo1_500.jpg) |
http://goo.gl/XE9G8l |
Eu costumava voar todo dia para a praça: pequena, simples, mas bonita e confortável. Gostava de pousar em um dos galhos e observar a movimentação, a vida além da minha. Crianças iam e vinham correndo com um sorriso no rosto até uma cair e provocar um coro de choradeira. Babás dormiam ou observavam as crianças brincarem com cara tediosa e exausta. Adolescentes passavam com seus grupos, seus bandos, e gritavam, gargalhavam, aproveitavam a vida. Os adultos corriam, passando rápido pela praça sem notar sua beleza - estavam ocupados pensando no minuto seguinte. Tudo era muito bonito, esclareço logo de primeira, mas desde todo esse tempo que ia para esse pedaço de paraíso, só apenas uma coisa me chamou tanta atenção a fim de me fazer cantar e voar para lá a cada dia que passava: o casal.
Era um simples casal, constituído de um homem e uma mulher. Eles passavam por lá todo fim de tarde. De lá não saíam até o anoitecer. Se beijavam, se abraçavam, riam um com o outro e ficavam sentados num banquinho fazendo exatamente como eu: observando. Era muito bonito de ver toda a energia existente e feita apenas por duas pessoas, vê-las me fazia feliz.
Cumprindo minha rotina, fui antes do sol se pôr para o mesmo lugar de sempre. Eles apareceram, mas havia tristeza e preocupação em seus rostos. Visto isso, comecei a ficar desesperado.
- Eu te chamei aqui para esclarecer tudo. - Falou a mulher, segurando o choro.
- Esclarecer? Do que você está falando? - Seu rosto empalidecera.
- Ultimamente tenho estado meio distante - ela hesitou - porque percebi que o que sinto por você não é mais tão intenso como antes.
Ela esperou uma resposta, portanto não obteve, então continuou.
- Começou a ficar tedioso, estou cansada de sempre fazer e falar as mesmas coisas. Estou
cansada. Eu gosto bastante de você, mas percebi que não é isso o que eu quero, você não é para mim. Não me entenda mal, você é maravilhoso, mas percebi que nós não combinamos como um casal. Eu não quero falar "podemos ser amigos" porque eu sei que você não vai querer ser amigo de alguém que te magoou, e muito menos olhar na cara.
- Você está
cansada? - o homem falou, pela primeira vez abrindo a boca. Havia tristeza e ódio em sua voz. - Está cansada de ser tratada bem? Está cansada de ficar ao redor de amor e carinho? De compaixão e compreensão? De sinceridade e esperança? - Ele começou a aumentar o tom. - De
apoio?
- Você não está entendendo, eu não quis dizer isso, eu...
- Não quis? Então o que você quis dizer? Você falou com as mesmas palavras!
- Eu não estou dizendo que estou cansada do jeito que você me trata! - protestou. - Estou cansada da sua pessoa, do seu jeito, acho que a gente não foi feito para isso! - seu tom também estava aumentando agora.
- Então...
- Olha, eu não queria te magoar, só não quero mais, está bem? Mas não quero ser o tipo de ex-casal que se odeia, quero paz. Você é uma pessoa maravilhosa, vai achar alguém melhor que eu.
Ele pareceu pensativo e então disse:
-Esse lugar foi a nossa história.
- Escolhi ele por isso mesmo: nasceu aqui, morre aqui. - Falou delicada. - Queria me despedir da melhor forma possível.
O homem estava segurando o choro com todos os esforços possíveis, eu observava de cima sem poder fazer nada. Aquele vazio no meu peito começou a surgir, tenho os acompanhado desde sempre.
Ela pulou para cima dele, o abraçando e sussurrando "Adeus Michael, boa sorte" e, surpreso, sussurrou de volta "Adeus Lily, boa sorte".
Os dois pareceram ficar abraçados por bastante tempo, o bastante para se consolarem. Nesse instante, voei sobre ele e cantarolei, eles se separaram e cada um foi para o seu lado.
Como luto, nunca mais voei nem cacei comida por aqueles arredores, com medo de me aproximar de outra dupla apaixonada.